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quinta-feira, 6 de maio de 2010

A fila anda é o caramba

Apresentei um ao outro. A intenção era removê-los do celibato. Na primeira noite, reconheceram-se na possibilidade. Numa segunda, partiram para a concretude. Numa terceira, não sabiam o que fazer um com o outro. A partir daí, desempenharam um patético movimento de ir-não-indo-talvez-fondo.

Sugeri a ela que se mostrasse mais acessível, já que ele até ensaiou um convite para o depois. Ela cedeu uns graus e fez-se mais responsiva. Mas para ele pareceu ser tarde demais. Nesse meio tempo já havia voltado à toca. Os dois hoje mal se falam, protegidos pelo constrangimento. E rodaram a catraca.

A escritora de livros para adolescentes, em uma sessão de aconselhamentos sentimentais no Youtube, diz para seu público:

- “Não” não dói. No dia seguinte sai no xixi. Você nem vai lembrar mais!

Opa. “Não” dói sim. Tudo bem que não devemos deixar que ele nos imobilize. Mas dói. Ainda mais se é o primeiro de nossa vida. E como assim “eu nem vou lembrar mais”?

Lavou tá novo. Essa é a premissa das relações pós-modernas. Luto pela perda pra quê? Afeto? O que é isso? Ah, você quis dizer sexo. Selvagem. Com múltiplos orgasmos e performances pirotécnicas. Intimidade pra quê? Somos desinibidos e bem resolvidos. É tirar a roupa e créu. E se não houver amanhã tanto melhor. Amanhã pra quê?

A fila anda. É a deixa do seu melhor amigo depois daquele pé que você ganhou. E, assim, de cinismo em cinismo vamos nos esbarrando. Sem apego, sem vínculo, sem reconhecimento do outro. Sem nenhuma humanidade para atrapalhar.

Tsc, tsc, tsc. Milhares de almas solitárias nessa imensa malha contemporânea.

Porque é tudo fake. Porque não existe relacionamento, por mais físico e curto que seja, sem entrega mínima. Porque para se entregar é preciso intimidade. E para isso é preciso criar vínculo. Desculpa, mas o ser humano é assim. Incluindo os homens. O resto é história para impressionar os amigos na mesa de bar.

Mesmo quando o objetivo é o desdobramento de uma balada, um orgasmo solto no ar ou algo para entreter os sentidos enquanto o efeito do álcool é soberano... supondo que seja isso o que se queira de fato... mesmo assim os corpos envolvidos estão registrando sensações de contato. Eles querem pertencimento, troca, acolhimento, fusão. Essas coisinhas. E as almas os acompanham com prazer.

Sobra você. Bobão. Achando que está no controle da situação.

A globalização ricocheteia como um bumerangue, a comunicação se horizontaliza via internet, as células-tronco se multiplicam, mas cá estamos, intimamente, querendo uma criatura com quem possamos trocar palavras e experiências, em quem possamos confiar por mais que alguns dias ou meses.

Porém o que há disponível hoje é o amor fluído, oportuno e utilitarista.

Para que amar se podemos banalizar? Trocamos a entrega pela defensiva. A dedicação pela autonomia. Somos fodões. Livres, lindos e poderosos. É só conferir nos perfis das redes sociais.

E estamos evoluindo. Saímos da era do “ficar” para a era do “pegar”.

Texto da redatora carioca: Cristiana.
Autora do livro: "Por que Heloísa?"
Tive acesso aos seus textos há pouco, e achei muito válido ressaltá-los aqui.
Parabéns Cristiana !!!

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