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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Crase em adjunto adverbial feminino

Os adjuntos adverbiais de instrumento recebem crase. Mas será é que esse é também o caso de "escrever à maquina"? As expressões adverbiais femininas costumam ser grafadas com acento grave no "a" ou no "as". São muitas as expressõs. Veja algumas:

Fique à vontade.

Às vezes eu visito a minha tia.

A cidade ficou às escuras.

Vamos conversar às claras.

Expressões adverbiais femininas costumam ser grafadas com acento grave indicador de crase no "a" ou no "as".

Quando se trata de instrumento ou meio, caso de "a máquina", há divergências entre os gramáticos. Alguns argumentam que ninguém diz, por exemplo, que o barco é "ao remo", e sim que o barco é "a remo"; do mesmo modo, um barco não pode ser "ao vapor", e sim "a vapor"; não se escreve algo "ao lápis", e sim "a lápis". Seria coerente com isso, portanto, que não acentuássemos o "a" ou "as" das expressões femininas que indicassem instrumento. Portanto seria adequado não colocar o acento.

Outros argumentam, porém, que, se as demais expressões adverbiais femininas recebem crase, as designadoras de instrumento ou meio também devem receber.

Então o que fazer? Uma vez que não há consenso sobre essa questão, seria admissível tanto usar a crase como não usá-la em adjuntos similares a "à máquina". Mas cuidado: esse uso facultativo só é possível em relação a adjuntos adverbiais de meio ou instrumento. Nas demais expressões adverbiais com palavras femininas, a crase é obrigatória.

Acento grave

"à beça", "às vezes"

Crase é uma palavra grega que significa fusão. No caso, a fusão de um "a" com outro "a". Comumente, da preposição "a" com o artigo "a". Assim, crase é o fenômeno da língua, o fenômeno da fusão, que é assinalado com o acento grave.

Portanto a "crase", tecnicamente, NÃO É o nome do acento. Na verdade, o acento chama-se grave.

Atente para o verso abaixo, tirado da canção "Morro Velho", de Milton Nascimento:

... some longe o trenzinho ao Deus-dará...

"Ao" seria a fusão de "a" mais "o". Ao Deus-dará, ao acaso, ao sabor do destino. Nas expressões masculinas somam-se as vogais, em vez de fundi-las. Não há a fusão porque as vogais são diferentes. E o que aconteceria nas expressões femininas equivalentes?

Djavam responde na sua canção "Se":

... você me diz à beça e eu nessa de horror...

A expressão " à beça" indica intensidade. No caso, significa "você me diz muito". Como também é uma expressão feminina, temos a mais a. Logo, fundimos as vogais iguais e chegamos ao "a" com acento grave: "à".

Veja esta letra, da canção "A Promessa", gravada pelos Engenheiros do Hawaii:

...Estou ligado a cabo a tudo que acaba de acontecer.

Propaganda é a alma do negócio:

no nosso peito bate um alvo muito fácil.

Mira a laser... miragem de consumo

latas e litros de paz teleguiada...

Será "a cabo" ou "à cabo" ? Observe que "cabo" é palavra masculina, que não poderia ser precedida pelo artigo "a". Portanto "a cabo" não leva o acento indicativo de crase porque não houve nenhuma fusão.

Na mesma letra, temos as expressões "a tudo" e "a laser". "Tudo" e "laser" também não são palavras femininas. A primeira é pronome e a segunda é substantivo masculino. Assim, não existe fusão entre preposição e artigo porque nem "tudo" nem "laser" são precedidas pelo artigo feminino a. Portanto o que os antecede é somente preposição.

E a expressão "às vezes" levaria crase? Vejamos como procederam os Engenheiros do Hawaii na canção "Às vezes nunca":

Tô sempre escrevendo cartas que nunca vou mandar

pra amores secretos, revistas semanais e deputados federais.

Às vezes nunca sei se "às vezes" leva crase

às vezes nunca sei em que ponto acaba a frase...

Notem que a canção tem teor metalingüístico. Tematiza-se a própria indecisão em colocar crase em "às vezes". Trata-se de expressão adverbial feminina de tempo. Ao substituirmos essa expressão por uma equivalente com palavra masculina, usamos ao em vez de às:

Faço ginástica apenas aos sábados.

Aos domingos, visito minha avó.

Portanto, na expressão "às vezes", formada por palavra feminina ("vez"), a crase será de rigor já que ocorre a fusão entre artigo e preposição. Devemos usar o acento grave indicador de crase.

É importante prestar atenção no sentido que "vezes" possui na frase. Por exemplo:

Eu faço as vezes de médico.

Nesse caso não existe acento, já que "vezes" tem significado completamente diferente: "Eu faço o papel de médico". "Às vezes" só leva acento nos casos em que indica tempo.

Crase acento grave

"à francesa"

Como escrever: "Bife à parmegiana" ou "bife a parmegiana"? Ou então: "lula à provençal" ou "lula a provençal"? O caso parece enigmático especialmente porque as palavras que se seguem ao a são adjetivos, termos que não se acompanham de artigos. Sabemos que, para haver a crase, é necessária a presença da preposição a e a presença do artigo feminino a.

Ocorre que, nas construções acima, estão subentendidas as expressão à moda de, à maneira de:

Bife à moda parmegiana

Lula à moda provençal

Elas são grafadas com crase porque trazem implícita a expressão "à moda de", locução adverbial feminina. E sabemos que as locuções adverbiais femininas costumam ser craseadas. Vejamos outros exemplos em que aparece essa forma:

Eles saíram à francesa da festa. (= Eles saíram à maneira francesa da festa.)

Eliana calçava um sapato à Luís XV. (= Eliana calçava um sapato à mode de Luís XV.)

"À francesa", "à Luís XV": nesses casos, as palavras moda ou maneira estão subentendidas. Assim, o a leva acento indicador de crase.

O verbo "ser"

"sua vida sou eu" ou "sua vida é eu"?

Volta pra casa... me traz na bagagem: tua viagem sou eu.

Novas paisagens, destino passagem: tua tatuagem sou eu.

Casa vazia, luzes acesas (só pra dar impressão)

cores e vozes, conversa animada (é só a televisão)

Na letra acima, extraída da canção "Simples de coração", dos Engenheiros do Hawaii, lemos "tua viagem sou eu" e "tua tatuagem sou eu".

Há pessoas que se espantam com esse tipo de concordância. Supõem que "tua viagem" pediria verbo na 3ª pessoa do singular, concordando com o sujeito: "tua viagem é..." ou "tua viagem foi...". Por que o letrista escreveu "tua viagem sou eu"?

Porque o verbo "ser", nesse caso, está ligando o substantivo "viagem" ao pronome pessoal "eu". O pronome pessoal prevalece pelo simples motivo de que, em termos de concordância verbal, a pessoa prevalece sobre o que não é pessoa, sempre. Por isso, independentemente da ordem da frase, faz-se a concordância do verbo "ser" com a pessoa, como vimos na letra:

Eu sou tua viagem.

Tua viagem sou eu.

Eu sou tua tatuagem.

Tua tatuagem sou eu.